A primeira impressão, para os mais novatos no assunto, pode não ser das melhores. Isso porque a horta tem um jeitão de bagunçada, com muitas espécies interagindo no mesmo espaço. Ao contrário das convencionais, ela tem um desenho mais orgânico, que pode ser em formato de espirais ou grãos de feijão, meia-lua, pequenos círculos concêntricos, enfim, conforme a criatividade e adequação ao espaço. Outra característica importante é o não declarado à monocultura, que se expressa no mix de hortaliças, ervas medicinais, frutas, tubérculos, legumes e até flores. Imagine o colorido de uma horta com alface, lavanda, margaridas, beterraba, abóbora, abacaxi, capim-cidreira e camomila! Tudo no mesmo canteiro. É lindo (pelo menos, para mim)…
Mas isso tudo tem um porquê. E a palavra-chave é biodiversidade. Quando se tem muitas espécies juntas, a biodiversidade ganha força e com ela vem o equilíbrio próprio da natureza. Como assim? Você já viu floresta precisar de rega, poda, plantio ou adubação? Já ouviu falar de jardineiro de floresta? Eu também não. A permacultura se baseia muito nessa ideia dos ciclos naturais, abastecidos de tal forma que sejam mínimas as necessidades de interferência humana, tal como ocorre nas áreas silvestres.
Pode até ser que alguém diga: Nossa, o mato tomou conta da horta. Ótimo. É isso mesmo. Quando deixamos o mato crescer, permitimos que plantas nativas cresçam espontaneamente. Isso é importante para que possamos ler o que aquele solo quer nos comunicar. Certas plantas espontâneas indicam solo ácido, por exemplo. E, quando deixamos que elas se desenvolvam, estamos possibilitando que a terra nos conte um pouco do que precisa para melhorar nosso cultivo e nos oferecer alimentos cada vez mais saudáveis. Comer folhas de plantas mais rústicas e nativas também é interessante. E quem tem uma horta mais diversificada pode se dar ao luxo de incluir espécies desse tipo, que costumam ser extremamente nutritivas, além de saborosas.
Na horta permacultural, a diversidade atrapalha as pragas. Doenças comuns em folhas de alface, por exemplo, são mais difíceis de serem disseminadas, uma vez que as plantas companheiras, de outras espécies, funcionam como barreiras. Além disso, as flores atraem os insetos, que deixam de se alimentar da lavoura. As alturas e densidades diferentes das plantas colaboram para a criação de microclimas, que possibilitam locais com quantidades distintas de insolação e água, o que torna o lugar ainda mais rico em biodiversidade. Tudo isso sem falar na facilidade de quem vai colher: não é preciso percorrer toda a horta para colher ingredientes para o almoço. A salada toda está num ponto só…
Dá até para fazer da horta um projeto de paisagismo para o seu quintal. Com flores e frutíferas, fica maravilhoso criar um caminho de jardim comestível. Cercas-vivas podem ser construídas com pés de chuchu, berinjela, maracujá, tomate. No lugar de pequenos arbustos, que tal citronela para combater mosquitos, capim-cidreira para o chá da tarde e couve-manteiga para completar as refeições? Horta com biodiversidade é horta mais saudável. Experimente!
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